sábado, 13 de março de 2010

A relação narrador-obra-leitor em "Memórias de um Sargento de Milícias".

É sabido que no período correspondente ao estilo romântico, século XVIII, a prosa é difundida em forma de folhetim, ou seja, o leitor não tinha acesso à obra na íntegra em uma única oportunidade, mas de forma fragmentada. Sabe-se, também, que o público leitor deste período era formado, em sua maioria, por mulheres. Isto porque a maioria da população não tinha hábito, nem tempo, nem dinheiro para dedicar à literatura. Dessa forma, apenas as mulheres, principalmente as burguesas, foram consumidoras, durante muito tempo, dos folhetins e, conseqüentemente, do romance - produções criadas para atender aos anseios das leitoras, ou seja, eram narrativas que fugiam ao real, que retratavam uma realidade superior, transcendente.

Em vista disso, percebe-se uma característica marcante, talvez uma necessidade, do narrador deste estilo de época: ele é aquele que constrói e conduz o leitor com chamadas, de forma a situá-lo na leitura sob sua tutela. Na obra Memórias de um sargento de milícias, Manoel Antônio de Almeida não faz diferente - embora se trate de uma narrativa pícara, cujo herói foge ao modelo do herói romântico idealizado pelas mulheres - ele nos apresenta um narrador que tanto interage, quanto procura estreitar laços com o leitor, como mostram os trechos que seguem:

Vamos fazer o leitor tomar conhecimento com um desses ativos militares, que entra também na nossa história (p.30)

Cumpre-nos agora dizer alguma coisa a respeito de uma personagem que representará no correr desta história um importante papel, e que o leitor apenas conhece, porque nela tocamos de passagem no primeiro capítulo: é a comadre, a parteira... (p.27)

Como se pôde notar, no trecho citado acima, ao falar na importância da personagem - a parteira - ele induz o leitor a concebê-la, também, como um papel importante para a história. Talvez para o leitor, sem a influência do narrador, a esse personagem não fosse dispensada tanta atenção. Nesse comportamento do narrador - que segue a evolução do folhetim para o romance – pode-se perceber a intenção do autor, na figura do narrador, em fazer com que o leitor interpretasse a obra da forma que ele desejasse.

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